TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O CAMINHO DO SOL

Você já ouviu falar do Caminho do Sol? Aqui mesmo no Brasil, mais precisamente no interior de São Paulo? Se a resposta for não, ou se você já sabe meio por cima, te convido a ler esse post, pois nele você vai encontrar tudo que precisa saber sobre essa incrível rota. E algo me diz, que no final você estará planejando a sua ida. 😊

Como conheci o Caminho do Sol

A primeira vez que ouvi falar sobre o Caminho do Sol, foi através do queridíssimo Jesus Jato, do albergue Ave Fênix, figura lendária do Caminho de Santiago. Ele me contou que doou e levou pessoalmente a imagem de Santiago até o Brasil, e que estava presente na inauguração do Caminho do Sol. Confesso que fiquei envergonhada pela minha ignorância. Tive que atravessar o oceano, caminhar até Villafranca del Bierzo para descobrir que existe uma rota de peregrinação há 45 km da minha casa! E pra ser sincera, sigo um pouco constrangida, pois o tempo passou, a pandemia chegou e até agora eu ainda não tive o prazer de fazer esse caminho, mas sei que tudo tem a sua hora, espero pacientemente a minha, e deixo aqui a minha pequena contribuição para propagar o Caminho do Sol.

Como tudo começou

O Caminho do Sol foi idealizado por José Palma, após fazer o Caminho de Santiago. Ele quis proporcionar a mesma vivência para os peregrinos que não pudessem viajar até a Europa,  e também a de ser um preparatório para o Caminho de Santiago. Uma rota onde os peregrinos pudessem adquirir experiência, aprender a lidar com a mochila, o cajado, o desprendimento material, a simplicidade, e todas as outras dificuldades e maravilhas de uma longa caminhada. Dessa forma, ao chegar no Caminho de Santiago, o peregrino já teria experiência e poderia apreciar a jornada desde o primeiro momento. Além disso, o Caminho do Sol também seria uma forma de reviver as sensações para aqueles que já conquistaram a sua Compostela. Uma ideia maravilhosa e cheia de propósito.

Percurso do Caminho do Sol

Começa em Santana de Parnaíba, simpático município que nasceu na época de Mem de Sá (terceiro governador geral do Brasil) e conta com várias edificações coloniais tombadas pelo patrimônio histórico. Termina em Águas de São Pedro, uma estância hidromineral, cercada por belíssimas cachoeiras, conhecida pelas suas águas sulfurosas com poderes terapêuticos.

Ao todo são 241 quilômetros, percorridos em 11 dias. A maior parte do Caminho passa por propriedades rurais particulares. Os albergues, na verdade são chácaras, residências e até mesmo escolas rurais, preparadas para receber os peregrinos. Por isso, é necessário um agendamento prévio (veja aqui as datas disponíveis), para que toda a logística seja organizada e uma cama confortável esteja te esperando no final de cada dia.

As saídas acontecem às quartas-feiras, chegando na Casa de Santiago em Águas de São Pedro em um sábado. A quantidade de quilômetros percorridos por dia, assim como os alojamentos, já são pré-determinados. Não é possível parar antes, ou caminhar um pouco mais conforme as condições físicas de cada um, simplesmente porque não existem outras opções de pousadas.

Caso você não tenha disponibilidade de ficar 11 dias caminhando, ou prefira fazer o Caminho do Sol absolutamente sozinho, saiba que isso é possível, desde que agendado previamente .

É recomendável que se chegue em Santana de Parnaíba na terça-feira, e durma por lá, para começar o Caminho no dia seguinte bem cedo e com energia renovada. Como disse anteriormente, a chegada em São Pedro é no sábado, e para quem puder ficar até domingo, poderá participar do Café com Prosa, um bate papo gostoso organizado pelo Palma, um momento de acolhimento em que é feito uma reflexão do Caminho antes de voltar ao cotidiano. Além disso, eu recomendo muito a cidade de Águas de São Pedro, pois tem ótimas cachoeiras e fontes terapêuticas, perfeitas para tratar as dores físicas do Caminho.

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Todo o processo de agendamento é feito de forma simples pelo site. Se você se interessou, poderá acessar por aqui . A boa notícia é que o Caminho do Sol estava fechado por conta da COVID-19, maaaas reabriu hoje (23/09/20)! E justamente devido as restrições e cuidados impostos pela pandemia, os grupos foram reduzidos, por isso, se você tem interesse, não demore para se inscrever.

Bicigrinos são muito bem-vindos

Se caminhar não é a sua praia, mas você adora pedalar, saiba que no Caminho do Sol também existe essa opção.

Para os bicigrinos existem 4 rotas, o percurso é o mesmo, o que muda é a distribuição da quilometragem por dia. Sendo que a rota vermelha é a mais desafiadora (62, 83 e 96 km/dia) e a menos contemplativa.

Rota laranja – 5 dias

Rota Azul – 4 dias

Rota Verde – 4 dias

Rota Vermelha – 3 dias

Os bicigrinos podem começar em qualquer dia da semana, desde que agendado pelo site. Importante ressaltar que uma vez escolhida uma rota, ela deve ser seguida, não é possível mudar no meio do Caminho, lembra do que escrevi lá em cima? Os alojamentos são reservados previamente e exclusivamente para você, portanto, pense bem antes de escolher a sua rota.

Quanto custa

Para manter o Caminho do Sol, já que não é um projeto autossuficiente, cobra-se um valor de inscrição pelo kit.

Kit Peregrinos – passaporte do sol, porta passaporte, gargantilha de madeira com seta amarela, guia impresso, cajado personalizado e seguro para acidentes pessoais – Cia Porto Seguro: R$ 202,80

Kit Bicigrino – passaporte do sol, porta passaporte, gargantilha de madeira com seta amarela, guia impresso e seguro para acidentes pessoais – Cia Porto Seguro: R$ 155,80.

Além disso, gasta-se entre R$ 165,00 à R$ 170,00/dia com hospedagem, café da manhã, almoço e jantar. Esses valores são pagos diretamente nos alojamentos. Importante dizer que esses locais ficam na roça, bem no “meio do nada”, não tem restaurantes, nem mercado, loja de conveniência etc. Por isso oferecem pensão completa.

Esses valores são pagos diretamente nos locais que vão te receber, e a maioria não aceita cartão, portanto você terá que levar dinheiro, ir sacando nas cidades que existem no percurso, ou fazer o pagamento através de transferência bancária pelo celular. Nesse ponto é igual ao Caminho de Santiago.

Agora se prepare que lá vem amor…. O Caminho do Sol tem um sólido projeto social, por isso, cada peregrino deve doar 5 Kg de alimento não perecível que serão distribuídos para as comunidades carentes da região. Em 18 anos de Caminho do Sol, foram doadas 100 toneladas de mantimentos. Fazendo a roda da energia positiva girar, levando alimento para quem precisa e devolvendo bons fluídos para todos os peregrinos.

Arasolis

Com o Passaporte do Sol em mãos, o peregrino vai recendo carimbos ao longo do Caminho, exatamente como é feito na rota Jacobea com a Credencial do Peregrino. Ao chegar em Águas de São Pedro, todos os peregrinos e bicigrinos são recepcionados na Casa de Santiago, em frente a imagem do santo, aquela que foi doada pelo Jesus Jato, e recebem, das mãos do próprio José Palma a Arasolis.

Você deve estar se perguntando, mas afinal, do que se trata o Arasolis? É um lindo certificado, cheio de símbolos que representam a trajetória peregrina pelo Caminho do Sol, todos eles são explicados pelo Palma, no momento da entrega, em uma cerimônia simples, mas muito emocionante. O nome Arasolis, é celta, e significa Altar do Sol, foi sugerido pelo Acácio Paz, fundador do Refúgio Acácio & Orietta em Viloria de Rioja, que desde 1998 recebe e acolhe peregrinos no Caminho de Santiago.

Um Caminho de muito afeto e sol

As peregrinações à Santiago de Compostela são muito mais antigas que o próprio cristianismo, essa tradição nós não temos por aqui evidentemente, mas temos outros encantadores atributos. Por exemplo: Cidades coloniais históricas, lindas paisagens, cultura singular, pouco ou nenhum frio, alegria, comida boa, sem contar com a hospitalidade brasileira… essa é um capítulo à parte! Sou uma viajante compulsiva, tenho até um blog,  junto com meu marido, sobre viagem, e posso te garantir, brasileiro é um dos povos mais hospitaleiro e caloroso do mundo, essa é uma característica muito nossa e deliciosa de vivenciar.

Imagine você ser recebido com um ,escalda pés geladinho, após caminhar horas embaixo do sol quente, acordar com aquele cheirinho de café coado na hora, comer um pão caseiro, bater papo sem pressa com o povo da roça, ouvindo aquele sotaque “caipira descansado” jantar uma comidinha feita em fogão de lenha e dormir ao som da natureza… Imaginou? No Caminho do Sol tem tudo isso, e um pouco mais… “Bão demais”.

Quando se fala em “comida da roça” eu e meus companheiros veganos e vegetarianos já ficamos com o pé atrás, afinal essa tradição culinária utiliza vários ingredientes de origem animal, além da própria banha de porco para cozinhar, mas, pra minha surpresa, eles estão preparados para nos receber! Bata mencionar na ficha de inscrição, que teremos uma comidinha deliciosamente vegana. Uma salva de palmas para o Caminho do Sol. ♥♥♥

via GIPHY

Tem mais uma exclusividade do Caminho do Sol que eu achei super legal:  O sistema de biblioteca única nas pousadas. Isso quer dizer que todas elas têm o mesmo acervo, você pode começar a ler um livro em Santana do Parnaíba, e continuar durante todo o Caminho, sem ter a necessidade de carregá-lo, pois o mesmo livro estará em todos os outros alojamentos. Tudo de bom, né?

Uma característica importante é que no Caminho do Sol não neva, evidentemente, e mesmo no inverno o frio é ameno. Portanto, se você tiver férias entre dezembro e fevereiro, meses que não são recomendáveis fazer o Caminho de Santiago, devido ao inverno rigoroso, poderá fazer sua caminhada aqui no interior de São Paulo de boas. Mas tenho que te lembrar, que o nome Caminho do Sol não é à toa! 😉

Se você ainda não está convencido, aqui vai mais um bom motivo: Não precisa levar saco de dormir nem toalha, elas são fornecidas pelas pousadas, isso quer dizer que a sua mochila será mais leve.

Mais semelhanças

Além de todas as semelhanças que fui mencionado ao longo do texto, existe uma que vai marcar você para sempre: as setas amarelas! Não estou exagerando, a partir do momento que você começa a segui-las, nunca mais irá esquecê-las. Sempre que visualizar uma seta amarela na sua frente, vai se sentir tentado a ir atrás dela, e nos momentos mais difíceis da sua vida, você vai pensar…” queria uma seta amarela pra me guiar!”

As setas amarelas são os “gps” do Caminho do Sol, e muitas vezes acompanhadas de uma dose do bom humor tipicamente brasileiro, que é pra gente se sentir em casa.  😊

Nos dois Caminhos existem trechos de rodovia. No Caminho do Sol elas estão presentes apenas no primeiro e segundo dia. Sendo que a maior extensão é pela rodovia dos romeiros, uma rota onde tradicionalmente há caminhantes, portanto os motoristas já estão acostumados, a partir do terceiro dia é só natureza e roça.

O Caminho do Sol não é o Caminho de Santiago, mas sim, é um ótimo preparo e ajuda demais a matar a saudade. Ele tem muitas semelhanças, mas sua essência é única.

Em meio a pandemia, e todas as restrições que ela nos impõe, distanciamento social, dólar alto, crise etc., o Caminho do Sol, assim como todos os outros Caminhos do Brasil, são ótimas alternativas para quem curte caminhadas de longa distância, oferecem a mesma experiência de desapego, simplicidade, auto reflexão e conexão com a natureza, só que bem mais acessível. Além de ser uma boa oportunidade para nos aproximarmos das nossas raízes e história.

Dica extra: A credencial do Caminho do Sol vale como complemento de quilometragem para o Caminho de Santiago. Legal né?

Agora chegou a sua vez….

Me conta, o que você achou o Caminho do Sol? Já fez algum Caminho Brasileiro? Então divide a sua experiência aqui nos comentários, assim você incentiva outros peregrinos.

E se você já começou a fazer planos para o Caminho do Sol, comece lendo o post sobre Calçados para o Caminho, afinal esse é um dos itens mais importantes e precisam ser amaciados antes da peregrinação.

Ultreya, suseya y buen camino.

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