UM POUCO DE TURISMO NO CAMINHO DE SANTIAGO

Se tem uma coisa que eu amo fazer na vida, é viajar. Quando decido por um destino, procuro saber o máximo possível sobre a história e costumes locais. Para mim, planejar o meu roteiro é parte da viagem, por isso eu mesma faço, sempre pesquisando blogs sem ajuda de agências, inclusve, tenho um blog sobre viagens. Quando decidi fazer a minha peregrinação, foi a mesma coisa. Procurei por informações relacionadas a turismo no Caminho de Santiago, mas quase não encontrei. Na verdade, o que eu queria mesmo, era saber como conciliar turismo com a rotina diária, e principalmente, como planejar as etapas de forma a poder conhecer, pelo menos, os pontos mais interessantes de cada lugar.

Obviamente que turismo, não é o principal foco de um peregrino, mas na minha opinião, não dá para pisar em terras com 35 mil anos de história, por onde passaram celtas, fenícios, cartagineses, gregos, romanos, visigodos e mouros, e não aproveitar para conhecer um pouco mais sobre toda essa herança cultural. No meu humilde ponto de vista é um desperdício. Por isso resolvi escrever esse post, com algumas dicas de como conciliar turismo ao dia a dia do peregrino.

Turismo no meio do Caminho de Santiago.

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Depois de caminhar o dia todo, o que a gente mais quer é descansar e cuidar das nossas dores, é difícil pensar em fazer turismo com o corpo dolorido e cansado, mas acredite em mim, você vai passar por vilarejos tão simpáticos e antigos que vai ficar louco para dar uma voltinhas e, confie, é possível conciliar tudo. Isso porque a maioria das cidades são minúsculas, ou muito pequenas, dá pra conhecer tudo o que tem pra ser visto em uma breve caminhada, o que não é nada pra quem caminha uma média de 25km diário! Outro fator que facilita bastante, é que nestas pequenas cidades, o caminho geralmente passa perto ou em frente aos principais monumentos e pontos interessantes, muitas vezes você nem precisa sair da rota para visitá-los, como é o caso das ruínas do Hospital e Convento de San Antón, do no século X, que o caminho é exatamente no meio, ou da Iglesia del Santo Sepulcro, construída pelos Templários em 1160 na pequena Torres del Río. Todos os monumentos e construções históricas tem plaquinhas informativas,  preservar a sua história é algo que os espanhóis sabem fazer muito bem.

Turismo no Caminho de Santiago antes do jantar

A Espanha é um país onde o catolicismo é um traço muito marcante na sua cultura, e no Caminho de Santiago é ainda mais forte, por isso, grande parte dos atrativos são igrejas, monastérios e ermitas, que, como eu disse, geralmente estão na sua rota, ou são possíveis de serem visitados, por exemplo, quando você sair para jantar ou ir ao mercado. Geralmente os restaurantes só abrem a partir das 19h00, ou seja, dá pra chegar no albergue, tomar um bom banho, descansar um pouco e quando for comer, dar uma voltinha na cidade e uma passada na igreja/ruína/museu, e pronto, tudo rapidinho sem grandes esforços. Essa estratégia você poderá usar nas seguintes cidades:

Saint-Jean-Pied-De-Port  (França) – uma  grande parte daqueles que fazem o Caminho Francês começam neste local. A cidade é bem bonita e minúscula, dá pra ver tudo em uma tarde. Comece pela Eglise Notre-Dame de I’Assomption, (Igreja de NSª da Assunção) de 1212, fica bem na entrada da cidade murada. Apenas um quintal separa a Oficina dos Peregrinos da Prison des Eveques (Prisão dos Bispos) um pequeno museu que dá pra ser visitado em menos de uma hora, subindo essa mesma rua, e depois uma escadaria, é possível chegar a La Citadelle (Cidadela), uma fortificação medieval de 1625, que atualmente abriga um colégio, além de uma bela vista.

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Puente la Reina – praticamente em frente ao albergue de Los Padres Reparadores fica a Iglesia del Crucifijo, construída pelos templários em 1146. Dentro da igreja há um crucifixo com braços pendentes, bem diferente do tradicional. Um pouquinho mais à frente está a Igresia de Santiago, dizem que a missa dos peregrinos é bem bonita. E claro, tem a ponte românica maravilhosa que dá nome a cidade, mas o caminho passa por ela, então se estiver muito cansado, deixe pra ir no dia seguinte, afinal você terá que passar por ela de qualquer forma.

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Los Arcos – a cidade tem uma atmosfera gostosa, vale a pena conhecer a Iglesia de Santa Maria em estilo gótico (também há missa com bênção aos peregrinos).

Viana – é uma cidade murada muito bonita, você vai perceber isso, porque para chegar ao albergue terá que cruzar a parte histórica da cidade, ou seja, já na chegada poderá apreciar a beleza de sua arquitetura, sem nenhum esforço adicional. Bem ao lado do albergue municipal estão as ruínas da Iglesia de San Pedro do séc. XII, destruída durante a primeira Guerra Carlista, e, mesmo assim, é possível ter uma boa ideia de como era bonita, de lá também se tem uma bela vista da paisagem. Se tiver mais sorte que eu, e encontrar a Iglesia de la Asunción de Santa Maria aberta, visite, é bem pertinho. Lá está sepultado o lendário César Bórgia, filho do Papa Alexandre VI (Rodrigo Borgia) e irmão da ainda mais famosa Lucrécia Bórgia – aquela das relações incestuosas, lembra?

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Najera – Não deixe de visitar o Monastério de Santa Maria La Real, bem interessante, principalmente o Claustro de los Caballeros, onde os nobres da região eram enterrados, e o Panteón de los Reyes de Nájera e Pamplona, onde estão sepultados os infantes, reis e rainhas que governaram a região desde o século X. Destaque também para a gruta onde o rei García Sánchez III encontrou a imagem que recebeu o nome de Santa María en La Cueva. Tudo isso está no Monastério de Santa Maria La Real. Saiba mais sobre a história e as lendas de  Nájera aqui.

Fromista – Iglesia de San Matin, do séc. XII, muito bem conservada e com mais de 300 esculturas de animais diferentes em suas colunas, é bem pequena e muito bonitinha, uma igreja única.

Carrion de los Condes – A cidade é bem charmosa, se tiver pique dê uma voltinha pelo centro, mas não deixe de conhecer a Iglesia de Santa Maria del Camino, do séc. XII é a mais antiga da cidade e fica ao lado do albergue, a imagem de Santa Maria del Camino que está em seu interior tem 800 anos de idade.

Ponferrada –  a joia dessa cidade é o  Castillo de los Templários, que foi construído para proteger os peregrinos na idade média, e abriga uma exposição permanente de livros da Idade Média e dos Cavaleiros Templários, é o maior acervo desse tipo no mundo. Mas também vale a pena conhecer o centro histórico, recomendo a Plaza Ayuntamiento (praça da prefeitura) e a Torre del Reloj, é bem perto do Castillo de los Templários, e um bom lugar pra encontrar um restaurante.  Se você tiver disposição, a cidade abriga o Museo del Bierzo, que conta a história da região através de objetos que vão desde o paleolítico, passando pelo período visigótico, idade média até chegar no século XX.  

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Villafranca del Bierzo – é a terra de Jesus Jato, o dono do albergue Ave Fénix, é figura lendária do caminho, caso você não fique hospedado lá, faça o possível para conhecê-lo e fazer um donativo para seu albergue, que fica bem no caminho. Aproveite e visite a pequena Iglesia de Santiago (séc.XII), bem ao lado do albergue do Jesus. Ainda no seu trajeto, você vai passar em frente ao Castillo-Palacio de los Marqueses de Villafranca, uma construção majestosa, depois visite a linda Colegiata de Santa María, que mescla estilos góticos tardio, renascentista e barroco.

Claro que existem dezenas de outras cidades ou vilas interessantes no Caminho, como por exemplo O Cebreiro, antigo vilarejo celta, com suas palloças constuídas de pedras e telhado de palha,  e a  igreja Santa Maria La Real, do séc, IX, onde aconteceu o milagre eucarístico. Estes vilarejos são muito pequenos, exigem pouquíssimo esforço do corpo peregrino cansado, por isso não se preocupe, você vai conseguir explorar tudo sem grandes esforços.

Dedique mais tempo às cidades maiores

Algumas cidades necessitam um pouco mais de tempo para serem exploradas devido ao seu tamanho e valor histórico, como Pamplona, Logroño, Santo Domingo de la Calzada, Burgos, Leon, Astorga e Santiago de Compostela, para essas, você terá que se programar, fazendo etapas menores, para chegar cedo e disposto a bater pernas, ou ficar um dia inteiro por lá descansando do caminho.

O caminho não é feito apenas de monumentos religiosos, aproveite para experimentar as comidas típicas, os excelentes vinhos e a sidra, que também são partes da cultura local. Respire fundo e sinta o delicioso ar puro dos bosques e os cheiros característicos de cada pequena vila por onde você passar. Preste atenção ao canto dos pássaros, ao mugido do gado, e aos diferentes sotaques que você certamente vai ouvir. Converse com os moradores locais, faça amigos e caminhe no seu ritmo, desfrutando muito de cada pedacinho do Caminho.

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Ultreya, suseya y buen camino.

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